Qual a influência da atuação dos líderes sobre as pessoas?
A pandemia do coronavírus nos testou todos os dias, toda hora, todo minuto. E você pode até ter achado que o seu poder, a sua vida, o seu histórico iria o proteger… ledo engano. Ser líder é um grande desafio, numa crise como essa nem se fala.
Se você é mãe, pai de família, CEO de uma grande empresa ou Chefe de Estado, saiba que em momentos assim a sua liderança causará ainda mais impacto.
Ninguém estava preparado para viver uma situação como a atual. O que se vive hoje é diferente de tudo que já aconteceu. Há muitas comparações com períodos de guerra, mas o que vivemos agora é uma guerra invisível contra um inimigo imprevisível e que não conseguimos ver. Essa grande adversidade é inédita.
E quando se iniciou o processo de vacinação em todo mundo, inclusive aqui no Brasil, o maior teste de todos se apresentou: o teste da imunidade.
Não pense você que é somente estar imune ao vírus, é sim estar imune a avaliação, a percepção das pessoas, cidadãos, colaboradores, amigos e familiares sobre a sua forma de liderar, de se comportar, enquanto durou e durará essa crise avassaladora.
Se a sua preocupação nesta crise é com a sua imagem, com que as suas opiniões sejam vistas como as certas e, até agora continua agindo assim, já lhe digo que é bastante provável que ler esse texto não ajudará você. Afinal, você já sabe de tudo, não é mesmo?
Quem age assim, vai na contramão dos relacionamentos interpessoais.
Esse tipo de atitude é egoísta e extremamente desmotivante em qualquer ambiente, seja ele no âmbito profissional ou não.
Se você é um líder e comporta-se priorizando somente as suas necessidades, piorou. Durante uma crise, como a pandemia, nem se fala.
Este artigo é para aqueles que pretendem ser líderes de verdade, autênticos, que realmente se importam com as pessoas a sua volta. É para aqueles que não querem o poder pelo poder, querem realmente construir um estado, um país, uma empresa, uma família… mais humanizados.
O momento que deveria ter nos obrigado a ficar em isolamento ou, pelo menos, a manter um distanciamento social mostra que somos vulneráveis, precisamos do outro e, especialmente, que a constância da vida é mudança e adaptação.
Mas como lidamos com tudo isso? Exatamente assim: fazendo perguntas e buscando respostas que possam gerar aprendizado para enfrentar os desafios, sejam eles já conhecidos ou não.
A pergunta, ou melhor, as perguntas fundamentais que devem ser feitas neste momento de crise são:
- O que deve ser feito primeiro em cada situação?
- Como devo me portar diante de meus colaboradores?
- O que as pessoas esperam de mim?
- Qual é a coisa mais importante nesse momento?
- Qual é o meu maior propósito como líder?
- Como posso contribuir para a paz e tranquilidade das pessoas?
- A empresa, instituição onde eu trabalho, está respeitando os valores humanos?
- Como aquilo que eu faço ou deixo de fazer afeta o equilíbrio emocional das pessoas?
- Como o que eu falo é percebido e impacta, positivamente e negativamente, a vida das pessoas?
E talvez a principal pergunta:
As minhas atitudes e as minhas reações diante de cada situação estão colocando as pessoas em risco?
Certamente, se você realmente é um líder, fazer esse tipo de questionamento já faz parte da sua rotina. A diferença para um momento pandêmico, é que tudo isso, a instabilidade e a incerteza, gera desequilíbrio e até um colapso não só de saúde física, mas, principalmente, de saúde emocional.
Essas incertezas estão estridentemente pulsando dentro da sua cabeça e muito provavelmente estão gerando sensações corpóreas que lhe trazem muito incômodo. Saiba você que seus colaboradores também estão incomodados, sentindo-se mal e esperando atitudes diárias e orientações recorrentes de você.
Quais atitudes e orientações são essas? Onde posso encontrar as respostas ou algum direcionamento para lidar com tanta adversidade?
Além de muita conversa e reflexão sobre os desafios presentes, podemos buscar na leitura inspiração para nos ajudar a viver, sobreviver e conviver com harmonia e paz.
Então, vou indicar alguns livros que podem contribuir com o seu crescimento como pessoa e como líder que você já é e deseja ser.
Os primeiros ajudantes que apresento aqui são o “Monge e o Executivo” e a sua sequência, o “De volta ao Mosteiro“.
Eles são livros clássicos sobre liderança e, mesmo tendo dito sobre o ineditismo dessa crise que vivemos, acredito que nesses momentos o que deve ser prioridade e deve vir antes de tudo são os fundamentos.
Especialmente, agora, por se tratar da vida das pessoas, a hora é de voltar ao básico.
O monge ensina que a função maior de um líder é servir seus colaboradores e que ele precisa saber a diferença entre Poder e Autoridade.
A diferença é que o primeiro é uma faculdade e o segundo é uma habilidade.
Poder é faculdade que alguém tem, por causa de seu cargo ou da sua posição, de forçar ou coagir os outros a cumprirem sua vontade, ainda que preferissem não o fazer.
Para alguns, poder é faça isso senão eu o demito… e por aí vai. Ou seja, para esse tipo de líder o poder é minha possibilidade de obrigá-lo a agir segundo a minha vontade, queira você ou não.
Pensando assim, o poder pode ser visto como algo ruim. Contudo, há momentos em que o líder tem que recorrer ao poder. Desde que se lembre que está atendendo uma necessidade legítima e use o poder de maneira criteriosa e comedida.
E desde que o líder faça uso da sua faculdade de Poder na busca pelo Bem comum e não somente de suas necessidades pessoais.
Quando o líder servidor precisa usar o poder, ele o faz com tristeza porque reconhece que o uso do poder decorreu de um declínio da sua autoridade pessoal.
Quando o poder é utilizado para manipular, dominar e controlar as pessoas, sejam elas crianças, empregados, cônjuges, clientes, alunos…
começam a surgir péssimos indicadores como rebeldia, mentira, baixo nível de comprometimento, desgaste nas relações, moral baixa, falta de confiança, disfunções familiares, falhas organizacionais, conflitos trabalhistas, rotatividade de pessoal, divórcio, absenteísmo…
O estilo de liderança baseado em poder estraga as relações e torna-se insustentável ao longo do tempo. E o que vai acontecer?
As pessoas vão lhe obedecer até conseguirem se livrarem de você.
Você, líder, identifica as reais necessidades das pessoas?
O líder tem que ter caráter e a coragem de fazer o que é certo mesmo que isso possa prejudicá-lo de alguma maneira.
Às vezes, realmente é necessário que o líder exerça a função de chefe e tenha de dizer aos colaboradores o que têm de fazer. Contudo, lembrar-se do como faz isso é essencial, não pode ser feito de um modo que adoece as pessoas.
O líder deve ser servidor, preservar a saúde e o equilíbrio emocional das pessoas, um guardião dos valores e do clima organizacional da empresa e de todos que são impactados por suas atividades.
No livro “De volta ao Mosteiro”, acontece uma conversa sobre um teste, aplicado em grandes treinadores esportivos das universidades, que se encaixa muito bem ao que é proposto aqui neste artigo.
É simples, basta se fazer as seguintes perguntas:
Os seus jogadores, colaboradores, melhoraram o padrão de jogo, o desempenho, por terem passado uma temporada com você? Não só as habilidades no jogo, mas também se melhoraram como seres humanos?
Se quer saber como você está se saindo como líder a resposta está nas pessoas que você lidera. Basta observá-las com a devida atenção.
Os seus empregados vêm sendo promovidos? São solicitados por outros departamentos e até por outras empresas?
Ou pior, constantemente os seus colaboradores estão pedindo para sair, estão se demitindo?
A carreira deles será melhor por terem convivido com você? Ou na família, quando os filhos saírem de casa, estarão prontos para o mundo? Estarão preparados para serem bons pais, vizinhos, cidadãos, empregados e líderes? Contribuirão efetivamente para melhorar a sociedade?
Simeão, o Monge para quem não conhece a história, diz:
” estou convencido de que é exatamente assim que se começa uma liderança servidora. Não quando entramos em nossos direitos de liderança, mas sim quando entramos em nossas responsabilidades de liderança. “
Conhecer os conceitos não é suficiente.
Aliás é isso o que mais vemos no mundo corporativo. Conhecem tudo, sabem até dar palestras sobre clima organizacional, relacionamentos interpessoais, inteligência emocional, entre outros.
Mas, na prática, são nas atitudes que se vê os líderes de verdade.
Existe um desalinhamento fatal entre o que se diz e o que se faz.
O líder tem de ser congruente, tem de fazer o que diz. Precisam também estar abertos a ouvir feedbacks, mesmo que sejam desagradáveis.
E, para finalizar as reflexões trazidas aqui, a próxima indicação é “Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes”. Ele que vai nos ajudar a pensar na importância do termo parceira.
E não é por acaso que ele só aparece agora, de todos os importantes hábitos apresentados nessa obra, vejo um pertencente à categoria vitória pública como o essencial deles para quem almeja ser um líder eficaz. Ainda mais agora devido a pandemia que estamos enfrentando.
A liderança deve pensar sempre no ganha/ganha.
Quando estamos nos relacionando ou fazendo um negócio, as duas partes precisam obter o valor justo naquela interação.
Duas pessoas que têm o hábito do ganha/perde alcançarão sempre um resultado negativo e sem a menor possibilidade de chegarem ao consenso. E, ainda, criam um clima organizacional de disputa onde a prática é derrubar o outro para que eu conquiste o meu resultado.
Você é o líder que estimula o ganha/ganha? Que estimula o trabalho em parceria em busca de um resultado coletivo?
Ou não faz diferença alguma para você como o resultado foi alcançado desde que seja alcançado?
Vou sugerir uma situação hipotética. Imagine que amanhã é dia de feriado importante, quando tudo para. Você, o dono da empresa comercial, aquele quem decide o que fazer, fechar ou não as portas.
Então, pensa assim: quer saber? Amanhã eu vou abrir e colocar todo mundo para trabalhar, vai ser ótimo para mim, não tem nada funcionando e a única opção será nos procurar.
No dia seguinte, fica sabendo que pequenas vendas foram efetuadas. Daí você pensa: valeu a pena ter aberto, realizei vendas, o importante é vender sempre e ontem nenhum concorrente vendeu. Estou no lucro.
Pensando em resultado, pode-se até achar que não, mas esse é um exemplo de uma situação ganha/perde. O dono, no curto prazo, teve lucro, mas obrigou os seus funcionários a trabalharem, não os deixou ter um momento de descanso e de aproveitar o convívio com familiares.
E isso tem consequências, ainda mais se essa prática é realizada com frequência.
Já viveu alguma experiência parecida, como se sentiu quando foi obrigado a trabalhar em um feriado no qual a probabilidade de aparecer algum cliente era mínima?
O hábito do ganha/ganha pode e deve considerar o lucro, sem deixar de considerar outros fatores. Caso uma decisão como essa seja tomada pela liderança, acredita que ela vai irritar e desmotivar os colaboradores? Se a resposta for sim, todo mundo sai perdendo.
E, se você deixar o seu colaborador aproveitar o feriado, vai perder o lucro de um dia fraco, mas vai ganhar um vendedor mais descansado e motivado para vender mais do que vendera no dia seguinte.
Não sei quanto a você, mas enxergo que essa pandemia está deixando evidente que os líderes precisam pensar menos no eu e pensarem mais no nós. O ganha/ganha tem de ser mais que um hábito humano, deve ser um princípio para todas as interações pessoais.
Essa situação extrema que a humanidade vive agora, não vem de hoje, acontece que, agora, aquilo que parecia muito distante e demoraria muito a chegar está aí batendo na sua porta ou, melhor, bate na sua cara todo dia, toda hora.
Você acredita que ainda há espaço para o mundo girar em volta de umbigos?
Como você vai ser avaliado por seus colaboradores, familiares e cidadãos? As suas atitudes vão passar no teste do coronavírus? De solidariedade? De humanidade?
Após pensar em tudo isso, será que você passa nesse teste? Será que saíra imune a tudo isso?
A resposta, como o coronavírus, não é vista a olho nu.
p.s: Hoje dia, 28/11/2022, escrevo a nova versão deste artigo que nasceu no dia 01/02/2022. Caso tenha gostado do artigo, deixe um comentário. E se quiser a minha ajuda para trabalhar com essas questões, entre em contato.
Após pensar em tudo isso, será que você passa nesse teste? Será que saíra imune?
A resposta, como o coronavírus, não é vista a olho nu.
p.s: Hoje dia, 28/11/2022, escrevo a nova versão deste artigo que nasceu no dia 01/02/2022. Caso tenha gostado do artigo, deixe um comentário. E se quiser a minha ajuda para trabalhar com essas questões, entre em contato.
20 comentários em “Liderança na Pandemia – Sairemos imunes?”
Muito bom, Rodrigo.
Gostei muito, ótimas informações, questionamentos necessários, reflexões muito importantes.
Que este artigo possa alcançar muitas pessoas, ser muito lido e tocar a sensibilidade e responsabilidade de quantos precisam rever suas posições, corrigir rumos, cuidar melhor de si e dos outros, contribuir para o bem da sua comunidade e do mundo.
Parabéns, escreva outros,
um grande abraço,
Walter Andrade Parreira
Excelente reflexão. Praticamente um manual da liderança. Muito útil.
Agradeço por suas palavras, Danilo!
Oi, Walter! Muito obrigado pela sua contribuição e por suas palavras. Também espero que esse artigo possa alcançar as pessoas e contribuir para o bem de todos. Outros virão.
RODRIGO AMEI ! … DEVOREI RAPIDAMENTE, PRENDEU A MINHA ATENÇÃO E O INTERESSE EM LER OS LIVROS OS QUAIS VC INDICOU . VOCÊ É UM SUCESSO PARABÉNS!
Que bom! Fico feliz com as suas palavras e agradecido pelo incentivo!
Ótimas reflexões! Com certeza vai abalar muitas opiniões.
Tenho muito orgulho de você!
Obrigado, Louise! A ideia é essa! 🙂
Um texto limpo e bem claro que nos propícia uma ótima reflexão afinal, em um momento ou em outro somos líderes e temos a oportunidade de influenciar outrem.
Obrigada pelas palavras e indicações de livros.
É isso aí, Patrícia. Em algum momento somos líderes que influenciam alguém. Grato pelas suas palavras e contribuição. 😉
Muito bom e atual o seu artigo.Quem tem autoridade terá naturalmente o poder e não o contrario. Todos precisamos de líderes autênticos para nos guiarmos.
Muito obrigado pela contribuição!
Estou lendo e gostei muito do conteúdo.
Você foi muito sensível nas palavras e me fez refletir em vários aspectos do meu comportamento.
Apesar de não ser líder constante, sei que todos nós, em algum momento, exercemos o papel de liderança por isso é importante refletirmos sobre como lidamos com diversas situações da vida.
Que legal, Emerson! Fico feliz que tenha gostado e feito você refletir. Muito obrigado pelo feedback.
Olá Rodrigo! Obrigada por compartilhar tão importantes reflexões com tamanho embasamento e fluidez na escrita.
Grato pelo comentário, Thais! 😉
Amei o texto , a atitude, a proposta de reflexão e as indicações!Não conhecia o termo Capitalismo Consciente e adorei conhecer porque me identifico totalmente com seu significado!Enfim, parabéns e muito obrigada!
Pois é, o capitalismo consciente traz uma filosofia mais humana para os negócios, vale a pena conhecer mais. Obrigado pelo seu feedback, Camila!
Parabéns Rodrigo, muito bom articulo !! Mais uma vez obrigado , abraços
Obrigado pelo feedback, Manuel!